sábado, 22 de dezembro de 2012

Arroz com pequi e bife

Tenho muitas memórias de uma época em que as minhas poucas preocupações se resumiam a não me sujar muito na rua, não quebrar lâmpadas com uma bola ou raquete e não rasgar a roupa de palhaço na matinê de carnaval. A maioria delas envolve comida. E talvez a mais forte delas envolva um prato que não era muito comum onde morávamos.

Eu tinha pouco mais de cinco anos quando morava com meus pais e meu irmão em Uberaba, interior de Minas Gerais. Viajávamos muito para Goiânia para visitar meus avós e tios. E era na cozinha da avó Gladys que a mágica acontecia. Ela preparava um delicioso arroz com pequi, acompanhado de um magnífico bife acebolado.

Dizem que o segredo para se gostar do pequi está na escolha do primeiro caroço que se experimenta. Ou você se apaixona ou odeia. Eu acredito que aqueles que dizem não gostar de pequi, certamente deram sua primeira mordida em um caroço sem graça ou amargo; ou talvez tenham enchido a boca de espinhos na primeira mordida. Pois é. O pequi é traiçoeiro.

Comigo não! O cuidado da minha avó e da minha mãe eram tamanhos que eu nem precisava morder o caroço. O pequi já chegava ao meu prato raspado e sem espinho, misturado no arroz, com rodelas de cebola e bife todo picado por cima. Facilidades que são direito apenas dos pequenos.

Com o tempo, aprendi a cortar meu próprio bife e a morder meu próprio pequi. Habilidades que só aumentaram ainda mais o meu apreço por esse tradicional prato da culinária goiana. O contrabando de pequi entre Goiânia e Uberaba que minha avó sempre fazia mantiveram o gosto e o hábito, que se mantém até hoje, muitos anos depois.

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