domingo, 1 de maio de 2005

METADE

Oswaldo Montenegro

E que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Por que metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio

Que a música que eu ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor, apenas respeitadas,
como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento
Porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora, se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso e a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor e a outra metade também.

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